quinta-feira, 2 de julho de 2009

sunset

O céu estava cada vez mais avermelhado, ou alaranjado... sei lá. Olhando direito dava até para perceber alguns tons lilases no horizonte. Nuvens, quase nenhuma, apenas alguns fiapos brancos, nem dava para apontar imaginando alguma forma ali. O dia tinha sido todo assim, perfeito, bem diferente da abóboda cor de chumbo da semana passada. Por isto ele estava ali, aproveitando aquele momento.
Deitado, na grama ainda úmida da última rega, foi ali que ele passou toda a tarde, ouvindo o cantos dos pássaros, lendo pela quarta vez (ou seria quinta?) seu livro predileto e observando o comportamento de quem passava por ali quase sem o notar. Nunca tinha feito isto, mas resolveu fazer hoje, sem nenhum motivo em especial, logo depois do almoço. Nem sequer se deu ao trabalho de ligar para seu chefe dizendo que não iria voltar ao escritório à tarde. Simplesmente não foi e agora nem lembrava mais a pilha de tarefas que tinha ficado por terminar. Na verdade não lembrava nada. Desligou seu cérebro para todas as outras coisas e apenas curtia aquele instante.
Um pássaro cantou. Por um instante desviou o olho da página que estava e ficou ouvindo aquele canto. Se perguntou porque nunca tinha ouvido um pássaro cantando naquela cidade, na verdade tentou lembrar a última vez que tinha visto um pássaro naquela cidade cinza. Não conseguiu se lembrar. Mas ali estava ele, pequeno, no galho da árvore, de peito aperto cantando. Lindo.
Cerrou os olhos, apenas por alguns instantes, e procurou com todas as forças gravar aquele momento na memória, o canto, a imagem e o cheiro, os sentidos todos. De agora em diante aquele seria seu remédio antimonotonia, do qual o poeta um dia pronunciou.

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