quarta-feira, 22 de maio de 2013

Sobre homofobia e relações familiares



Ainda fico indignado quando vejo alguém dizendo que uma criança, criada por um casal gay, necessariamente será um gay quando crescer. Desde logo, não discordo da ideia de que ela poderá ser gay, isto porque, sendo criada em um ambiente com muito menos preconceito e em um ambiente em que ela não precise esconder suas características, essa criança, com toda certeza, estará muito mais aberta para desenvolver sua sexualidade da forma como lhe convier.
Pessoas que pensam dessa forma não conseguem responder a um simples questionamento: - se ser gay é um aptidão que é aprendida, de que forma as crianças criadas em ambientes puramente (ou predominantemente) héteros se tornam gays? Além disso, quem pensa dessa forma, se esquece (ou procura esquecer, ou mesmo não sabe) que o comportamento humano é muito mais diverso, muito mais complexo, e que as pessoas não são necessariamente iguais às outras com quem elas convivem.
Se assim fosse, seríamos todos iguais e seguiríamos um mesmo padrão sempre: todo filho de advogado, seria advogado; todo filho de médico, seria médico; todo filho de bandido, seria bandido. Mas nós humanos não somos programado para sermos dessa forma, e é isso que faz toda a diferença entre sermos seres racionais e sermos um bando de macacos vestidos.
Os homofóbicos se prendem a conceitos ultrapassados para reforçar seu discurso de ódio e fazem isso da forma mais cruel possível – através do discurso religioso e cheio de supostos valores morais. Afinal de contas, é muito mais fácil pregar qualquer ideia tendo como suporte a palavra de Deus, mesmo que essa palavra seja constantemente deturpada e reinterpretada a favor de quem a detém.
E é assim, através de conceitos que supostamente defendem a família e os bons costumes é que muitas famílias são destruídas e pessoas são vítimas de violência. Quantos pais e mães deixam de falar com seus filhos pelo simples motivo de eles serem gays? Quantas pessoas são colocadas para fora de casa, e quantos problemas emocionais e sócio-afetivos são iniciados simplesmente pela não aceitação da sexualidade alheia? Quanta brutalidade é gerada pelo ódio ao universo gay?
            Portanto, quem prega o repúdio contra os gays, de forma alguma está defendendo a família, pelo contrário, está ajudando a acabar com muita delas, seja através da segregação, seja através da violência. Por fim, cabe lembrar que sentimentos como: carinho, amor, respeito e proteção, não dependem da sexualidade de ninguém para ser ofertados a uma criança.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sobre egoismo, espaço público e outras histórias

                Ontem eu vi uma cena, que á primeira vista é comum, mas que não me passou despercebida. Uma garotinha, mais ou menos com cinco anos de idade, com um papel na mão, fez uma bolinha deste papel e a jogou no chão proferindo a seguinte frase: “não presta mais, vou jogar no lixo”. Porém não foi no lixo que ela atirou, foi no chão mesmo, na frente de sua mãe que nada falou, não a repreendeu, não fez absolutamente nada e a bolinha de papel ficou, assim como muitas outras coisas, no meio da rua.
                Pouco depois, já de volta ao trabalho, estávamos conversando sobre datas comemorativas, sobre a matéria educação moral e cívica que se ensinava na escola antigamente e que hoje não se ensina mais. Acredito que quase ninguém mais deve saber o porquê de alguns feriados, ou cantar certos hinos, como o da independência, ou o da bandeira. Enfim, o patriotismo que se exercitava antes, hoje se encontra esquecido sob o véu de certas políticas educacionais que eu não entendo e que não é a função desse texto comentar.
                Pois bem, se você continua lendo até aqui deve estar se perguntando o que as duas histórias acima têm em comum... Pois bem, vou explicar.
                A falta de amor pela pátria e a descrença nas instituições só tem aumentado nos últimos tempos e, com isso, aumenta também o desdém e o descaso pelo espaço público, pelo bem comum. Por isso cada vez mais vemos o lixo se espalhando pelas ruas, as depredações em praças e monumentos, os muros e postes virando banheiros. Em suma, o espaço comum virou terra de ninguém. Se não há um sentimento de pertença, de posse pela coisa, as pessoas começam a pensar que podem fazer o que quiser, inclusive destruir esta coisa. E é isso o que vem acontecendo com as nossas cidades, cada vez mais dilapidadas.
                A garotinha talvez nem tenha consciência do que fez, para ela foi apenas mais um papel jogado ao chão. Mas se ninguém a corrige, se a mãe ali presente não a corrige, vai ser assim que ela vai crescer, sem entender que o espaço público não pertence a ela (pelo menos não só a ela) e veremos mais e mais lixo espalhado por todos os cantos, e cheiro de urina em vez de flores nas praças.
                Esse sentimento de desdém pela coisa pública é ainda agravado pela indignação que nos acompanha a cada vez que um escândalo de corrupção ou de desvio de dinheiro vem à tona. Passa-se a compreender que, se nem aqueles que são responsáveis por resguardar o patrimônio publico o fazem, então não cabe a ninguém fazer. Ou mais, passa-se a entender que, se o político pode se apropriar de algo que é público, então todos podem também tirar uma “casquinha” ou proveito desses bens.
                É ai que se cria garotinhas como aquela lá de cima. Que vai crescer achando que jogar lixo no chão é normal, que quebrar o banco de uma praça não é nada demais, ou que urinar na árvore de um canteiro não é uma coisa absurda. Cria-se (e muitos deles já estão aparecendo) os “cidadãos do foda-se”.
                Esses cidadãos são os que, ao utilizar o espaço público, não se ligam que esses espaços pertencem não somente a eles, mas a todos em conjunto. Então, ao urinar em um poste e receber um olhar de repreensão, eles logo bradam, “foda-se quem não está gostando”. Quando jogam um lixo na rua, eles pensam, “foda-se quem achar ruim, foda-se o gari que vai varrer, foda-se se esse papel vai entupir algum bueiro”. Quando picham um monumento eles pensam, “foda-se a beleza das coisas, foda-se o mundo”.
                Uma pessoa aqui do trabalho resumiu bem a sociedade em que vivemos: uma sociedade egoísta. Cada vez mais nos fechamos em torno de nós mesmo, em torno de nossas coisas que nos esquecemos de olhar para o lado. Um movimento demonstra bem esse egoísmo que nos rodeia: a cada dia aumenta a quantidade de pessoas que, dentro dos ônibus, não usam mais o fone de ouvido e ligam seus celulares a todo volume pra escutar música, pior que isso, além de ligar o celular, alguns estão acoplando auto-falantes para o som ficar mais potente. E, mais uma vez, “foda-se” para os outros.
                Por fim, não sou um especialista, nem quero com esse texto apontar os erros de ninguém, ou dizer que não há outros motivos para os nossos males sociais. Quero apenas dizer que, com um pouco mais de educação, de respeito pelo próximo e pelo espaço comum é que poderemos vencer a ignorância que nos permeia. Quem sabe assim poderemos ter a esperança de viver em uma cidade melhor, com mais beleza e aroma, enfim, sonhar com um futuro melhor para todos.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Dias de sol...

            "Dias de sol, só com você... com direito a horas a mais e rimas iguais, como eu e você..."





Acordei hoje mais cedo do que o necessário. Havia colocado o despertador para as seis e meia da manhã, mas o sol que invadiu a janela do meu quarto foi mais forte do que o meu sono. A primeira reação que tive foi levantar e fechar a janela – como sempre faço, mas o dia tava tão lindo, o céu tão azul, que resolvi tentar dormir, mesmo com a luminosidade que entrava.
                Consegui tirar mais um tempinho de cochilo, e acordei no horário anteriormente planejado. E, apesar de ter dormido um pouco mais tarde do que o costume, e apesar também de hoje ser uma segunda-feira – dia especialmente chato, eu acordei feliz e sorridente, com aquela sensação de estar bem, de que tudo está nos trilhos.
                É muito bom sentir-se assim, especialmente depois de certas dificuldades que passei ao longo deste último ano. Não cabe aqui descrever estes momentos – a intenção não é se lamentar pelo que aconteceu – cabe somente dizer que foram momentos em que cheguei a duvidar de muita coisa: duvidei de minha capacidade de superação, duvidei de minhas escolhas, duvidei até mesmo dos meus sonhos...
                Num primeiro momento me perguntei muito porque estava passando por tudo aquilo, se eu merecia, se eu suportaria. E foi desses questionamentos que me veio a certeza que eu realmente precisava passar por tudo aquilo pra me reencontrar, pra eu voltar a acreditar em mim mesmo. Foi preciso sair de minha zona de conforto pra eu descobrir novos caminhos e possibilidades, novas maneiras de batalhar por aquilo que eu acredito e quero pra minha vida.
                Não foi fácil, não foi bom, não quero passar por tudo isto novamente e eu não desejo a ninguém passar pelo que eu passei, mas foi útil – diria até mesmo necessário. Sem dúvida foi uma grande lição de humildade e foi um sem-fim de conhecimento que eu aprendi em pouquíssimo tempo.
                Mas eis que chego no que realmente importa nessa história toda – ao meu momento atual... nele eu estou feliz, estou bem, estou trabalhando, estou amando, tenho alguém que me ama, enfim, estou em paz comigo mesmo. Não que eu tenha tudo que quero, não que eu esteja plenamente realizado – tenho muita coisa a buscar ainda, tenho muita coisa a conquistar, muitos sonhos ainda não realizados, mas é que está tudo bem e é isto que importa.
                Pra finalizar, cabe aqui abrir um grande parêntese pra incluir algo que é, sem dúvida alguma, o maior responsável por esse momento de felicidade que vivo: - meu namoro. Desde que saí de casa há sete anos nunca me senti tão protegido e a companhia de uma pessoa (que não fosse parente) nunca antes tinha me feito tão bem, me dado tanta felicidade... É especialmente bom ter alguém pra dividir a minha vida, meus problemas, meus sonhos, é bom ter alguém pra planejar algo, alguém pra sentir saudades quando não se está junto. Enfim, é bom amar.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

amar é...

Abraçar. Beijar. Passar o dia todo deitado vendo TV. Ver um filme qualquer no cinema, dar as mãos e roubar um beijinho de vez em quando. Pedir comida chinesa pelo telefone, ou um calzonne, ou uma outra coisa qualquer. Engordar 10 quilos e não estar nem ai pra isso. Ouvir uma música – qualquer música, e lembrar imediatamente. Se encantar com um sorriso. Ganhar um apelido carinhoso. Dar um apelido também carinhoso. Receber carinhos, cafuné e cheiro no pescoço. Transar – de manhã, à tarde ou a noite. Receber “bom dia”, todos os dias. Receber um telefonema de meia em meia hora – e ficar preocupado quando não se recebe. Sentir ciúme. Sentir vontade de proteger, de guardar, de cuidar. Dar bronca quando fica teimoso ao beber. Receber “boa noite” e “Deus te abençoe” todas as noites e dormir bem mais feliz por isso. Ficar imensamente feliz quando se está ao lado e com uma saudade imensa quando se está longe. Sentir tesão só de ficar perto. Passar o dia todo pensando. Lembrar de cada momento vivido. Fazer um monte de planos para o futuro. Falar besteiras ao pé do ouvido com voz de bebê. Passar vexame junto e depois rir do acontecido. Mandar sms o dia todo. Olhar todos os dias as redes sociais. Se preocupar. Se desentender de vez em quando, só para depois reconciliar. Ter vontade de ficar o tempo todo junto. Receber e dar presentes. Descobrir uma nova música, um novo lugar. Dormir agarrado, sentindo calor. Ficar ansioso para ver de novo e triste quando se separa, nem que seja por um dia. Ouvir e dizer “eu te amo” o tempo todo e sempre querer ouvir e dizer mais... Amar é descobrir um novo sentido para coisas que antes eram óbvias. 

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

2011

                Dois mil e onze. Mais um ano que se inicia e, por mais que seja apenas um dia após o outro, uma continuidade do mesmo momento, nós sempre encaramos um ano novo como um período de renovação. Cada ano que se inicia é como um novo momento para renovar os planos, rever os rumos, corrigir as rotas. É tempo de olhar para dentro de si mesmo e buscar aquela fé em que tudo que virá daqui para frente, virá melhor do que antes – ou pelo menos diferente.
                O ano que ficou para trás talvez tenha sido aquele em que e ocorreram as transformações mais impactantes pelas quais já passei. Já passei por outras grandes mudanças, mas mudar do interior para a capital foi o maior salto que já dei na vida – maior mesmo do que ter saído de casa há seis anos. Daquela vez, pelo menos, tudo tinha um rumo perfeitamente definido, já dessa foi um grande salto no escuro. Não me arrependo do que fiz – de modo algum, mas compreendo hoje que poderia ter feito muita coisa de maneira diferente. Porém o tempo não volta atrás e as experiências vividas, se não foram totalmente satisfatórias, serviram como um profundo aprendizado.
                Passaria horas escrevendo aqui tudo que me aconteceu nesse ano que findou. Contudo não há necessidade disso, e acredito que vocês não teriam saco para ler. Cabe dizer, no entanto, que 2010 foi o momento em que procurei me conhecer melhor: sai de minha zona de conforto e parti para o mundo. Busquei realizar mais um de meus sonhos e tentei arrancar de mim aquela inquietude que me consumia. Vivia bem em Itabuna, tinha e tenho amigos lá que são muito importantes, tinha um bom emprego, ganhava um bom salário – mas não vivia mais feliz. Precisa mudar e mudei. Precisava de um novo começo, de novas descobertas, de novos desafios e foi em busca deles que vim parar em Salvador.
                Não tem sido fácil encarar essa nova realidade. Às vezes me pego chorando e me pergunto se é isso mesmo que quero, se sou forte o suficiente para aguentar, mas logo depois sempre vem a certeza que sou maior que tudo isso e é dessa certeza que tiro forças para continuar seguindo. O coração, em alguns momentos, parece que vai sufocar de tão apertado e a saudade é uma presença constante, afinal, deixei família, amigos e tudo aquilo que construí para trás. Mas viver é precisamente escolher sempre que rumo seguir e, ao optar por um, abre-se mão de vários outros. Sei que não perdi nada, sei que se voltar minha família estará lá me esperando, bem como meus amigos, porém essa não é a opção do momento – o momento é de construir o que quero aqui.
                De todas as coisas, perder a amizade de alguém importante, por um motivo fútil, foi o acontecimento que me causou uma dor especial. Nunca é fácil afastar-se de quem se gosta, ainda mais com brigas, discussões e, sobretudo, sem um motivo respeitável. Porém, como diz o ditado, “Deus nos dá o frio conforme o cobertor”, e se perdi um amigo, ganhei outra amizade muito mais verdadeira. Vi em 2010 que ainda há pessoas dispostas a estender a mão quando se precisa de ajuda e aprendi mais uma vez porque amizade é sim o sentimento mais especial que há no mundo.
                Todavia, o melhor do ano ficou para o final. A gente sente quando algo novo pinta no ar, quando algo especial vem chegando. Vem junto com aquele friozinho inexplicável na barriga, aquele pensamento que voa longe e sem destino. Nunca senti algo por alguém como o que venho sentindo agora. Não sei que nome pode-se dar a este sentimento: gostar, paixão, amor? – não sei. Só sei que quando estou longe, quero estar perto, e quando estou perto, não quero mais desgrudar. Sei o quanto não sou bom em demonstrar sentimentos: às vezes acho que estou muito distante, outras que estou grudando demais. Mas é o querer, o bem querer e como diz uma música que tenho escutado muito, principalmente quando estou com ele: “...se depender de mim, reviro o mundo, por esse amor sincero, que é tudo que eu mais quero...”.
                Sei que já se passaram dezoito dias desde o começo do ano, e que deveria ter postado este texto logo após o réveillon. Contudo preferi esperar até meu aniversário, afinal de contas, 25 anos de idade é um momento a se respeitar – não é todo dia que se faz ¼ de século. Posso dizer hoje que sou homem, não sou mais menino, apesar de conservar muito da alma de uma criança – sou homem, não velho – e, se ainda não tenho rugas, ou cabelos brancos, tenho uma bagagem de conhecimento acumulado que me deixa muito orgulhoso do que me tornei hoje.
                Pois então, 25 anos – e eu que já me peguei várias vezes pensando como seria ter essa idade, enfim cheguei nela. E ontem, apesar de passar boa parte do dia sozinho, de receber várias demonstrações de carinho, principalmente de minha mãe, eu não consegui chorar. Senti falta apenas da ligação de meu pai, mas por outro lado tive alguém que chegou e preencheu todo meu vazio. Alguém especial que passou a noite toda ao meu lado, me encheu de presentes, de carinho e de felicidade.
                E é isso, 2010 se foi e 2011 se inicia. E como eu disse acima, renovo minha fé em que tudo vai ser melhor que antes. Só depende de mim para que tudo de certo e eu estou aqui para fazer valer a pena.



quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sobre ética, moral e direito – a vida em sociedade e o animal que somos.

                Tive um professor de ética que dividia as nossas relações sociais em três campos de juridicidade: o campo do direito, o da moral e o da ética. Para nossa surpresa, alunos de direito que éramos, e tendo aula com um juiz respeitado, ele nos dizia que o campo do direito era o mais baixo dos três, sendo superado pelos outros dois e tendo a ética como o mais alto.
                Sua explicação para os três campos era a seguinte: as relações sociais que tem por base o direito são as mais frágeis – só fazemos ou deixamos de fazer algo se houver uma lei para nos obrigar ou se houver uma sanção para nos punir; já as relações sociais sob o comando da moral não precisam de leis para nos obrigar a fazer ou deixar de fazer algo, mas ainda assim necessitaremos de uma força externa para reger nossas ações (a moral religiosa, a familiar, a social, comandam a maioria de nossas atitudes, sem mesmo ter uma única lei escrita); por últimos há as relações puramente éticas, que são aquelas em que agimos (ou não) somente de acordo com o sentimento interior de fazer o bem, sem nenhum comando legal, sem nenhum olhar externo a nos vigiar, fazemos tudo simplesmente pela necessidade de agir corretamente.
                Seguia ele dizendo que, quanto mais um país necessita de leis, mais as pessoas que vivem nesse país perderam o sentido do que é viver em sociedade. Para ele, não precisamos de leis que nos digam que não devemos maltratar uma criança ou um idoso, leis para nos obrigar a votar, leis anticorrupção ou outras do tipo – precisaríamos no máximo de uns poucos códigos somente para nos organizar enquanto Estado. Leis, no seu entendimento, só servem para nos proteger de nós mesmos, nos proteger das feras que somos – já que não damos conta de nos domar, domar nossos instintos selvagens, então transferimos para o Direito essa tarefa. E, no caso, quanto mais leis nós criamos, é porque estamos caminhando mais em direção à brutalidade.
                Nós brasileiros, enquanto sociedade, marchamos na contra mão daquilo que é o ideal jurídico – a ética. Cada vez mais criamos leis para nos organizar, para nos obrigar, para nos punir por ações que não deveríamos praticar. Legislamos e burocratizamos tudo, criamos engrenagens que não funcionam, e terminamos nos emaranhando na teia de regras e regulamentos que, no fundo, não precisamos. Se fossemos éticos o suficiente, se praticássemos mais a bondade e todos aqueles princípios de boa convivência que sabemos existir, viveríamos muito melhor.
                Infelizmente, pelo que vejo, nossas relações sociais caminham para o caos. Nosso instinto de cooperação tem sido suprimido pelo de competição, e a cada momento em que crescemos mais, e nossos recursos naturais vão rareando, a tendência é piorar. Todos temos dentro de nós (inato ou não, eu não sei), o sentimento do que é correto, do que é Justo e bom, e isso independe de cultura, religião, espaço ou tempo, mas nem sempre colocamos em pratica esses sentimentos. Em nome de proselitismos e falácias, em nome de poder (e quase sempre de dinheiro), abandonamos a racionalidade e passamos a percorrer a via obscura da bestialidade
                Voltando ao inicio, terminava meu professor dizendo que uma sociedade totalmente ética era uma realidade utópica. É verdade que praticar o bem e o correto independe de qualquer ligação religiosa ou cultural, mas enquanto não interiorizarmos esse preceito precisaremos das leis para adestrar o animal que há em cada um de nós. Por último, vale dizer que falo tudo isso na primeira pessoa do plural e não na terceira pessoa, porque me incluo em tudo que foi dito acima. Sou humano também e sei o quanto com simples gesto podemos ser ternos ou cruéis, lindos ou horripilantes, a mais perfeita criatura da criação ou anjos tortos e caídos. Tudo depende daquilo que queremos para o outro e para nos mesmo. 

terça-feira, 2 de novembro de 2010

...

Hoje resolvi fazer algo diferente do costumeiro... não postarei um pensamento sobre algo, mas sim um conto. Não é o primeiro que escrevo, mas é um dos poucos que vocês terão oportunidade de ler por aqui, pelo menos por enquanto. Enfim, sem muitas explicações, aqui vai ele:



(des)Encontros


                Parou na varanda da sala e olhou para o horizonte que se enfeitava com mil cores. Não era a primeira, nem a ultima vez que via um pôr-do-sol, mas aquele tinha um significado especial: hoje era o último dia, de todos os dias, de sua velha vida. Tinha planejado esse momento durante algum tempo e hoje finalmente o estava colocando em prática. Não ia se matar, nem trocar de identidade ou mesmo fazer qualquer espécie de loucura, mas amanhã, quando o sol estivesse nascendo, seria outra pessoa, em outro lugar – tudo novo. Ficou ali até o ultimo contorno avermelhado do sol se esconder no horizonte e foi uma brisa gelada que a fez retornar a realidade: - vamos lá, hora de tomar as últimas providências – disse para si mesma.

                Apesar do longo tempo planejando essa mudança, a decisão mesmo de mudar veio repentinamente. Foi tudo muito rápido, muito louco – em menos de um mês já tinha se desligado de tudo, se despedido dos amigos, da família, vendido a casa, os móveis. Daquela antiga moradia só levaria o estritamente pessoal e as lembranças de alguns bons anos. Mas em verdade havia um segredo que ela não contou para ninguém: a velocidade da decisão foi, de certa forma, impulsionada por um sentimento que ela tentava conter, porém já não conseguia mais – ela estava apaixonada.
                Poucas semanas antes de se decidir por completo, viajando por uma das muitas redes sociais das quais fazia parte teve contato com aquele que iria acender novamente a chama há um bom tempo apagada. No inicio era uma conversa frívola, dois desconhecidos que se tateavam pelo escuro. Depois a intimidade foi aos poucos se instalando e em poucos dias já trocavam juras de amor e palavras de carinho pelo telefone. No mundo virtual, palavras de amor eram o máximo que se podia trocar para aplacar a ânsia de estar junto. E ela já contava nos dedos quando esse momento chegaria.
                E foi assim, com saudade dos que ficavam e com o coração aos pulos de ansiedade, que ela entrou no ônibus e deu adeus a todos na rodoviária. Evitou olhar para trás para que nenhum deles percebesse as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto. Estava triste sim, afinal, apesar de não pertencer mais aquele lugar, partir sempre trás alguma dor (a quem vai e a quem fica). Contudo, mais do que isso, estava feliz pela nova vida que se descortinava à sua frente. Seus planos, metas e desejos estavam todos postos na mesa e era nisso que se segurava para não fraquejar.
                O ônibus partiu e ela, como sempre fazia em qualquer viagem, dormiu. Demorou um pouco dessa vez por conta dos vários pensamentos que lhe povoaram a mente, mas enfim ela conseguiu fechar os olhos e desligar-se por completo. Quando acordou, o dia já raiava e a paisagem passava veloz do lado de fora da janela. Tentou fixar sua vista na estrada, mas era o seu futuro a única coisa que pensava.
                Enfim ela pisou pela primeira vez naquele solo que seria seu novo lar por um bom tempo (assim ela esperava). Bateu nos ombros, como querendo limpar a poeira que carregava de outros tempos, respirou fundo, olhou ao redor e identificou no meio da multidão que aguardava os passageiros aquele sorriso que a tinha conquistado. Era ele, seu amado, lhe esperando com um buquê de rosas e um beijo apaixonado.  E essa historia termina no mesmo momento em que seus lábios se encontraram pela primeira vez. Ela não sabia o que dali para frente iria ocorrer, na verdade nem queria mais pensar nisso. Queria mesmo era viver o mais intensamente possível.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A revolução das cores

Os adultos do inicio da década de 90 devem ter assistido boquiabertos àquela massa de jovens que saiu pelas ruas, com as caras pintadas, exigindo o impeachment do então presidente Collor. Da mesma forma, a geração de minha avó (que nasceu na década de 40), deve ter se surpreendido com as mocinhas de 60 queimando sutiãs por ai. Ou os da década de 10, que viram os vestidos e ternos darem lugares a roupas mais curtas e despojadas (e apropriadas para o nosso clima). Todas essas gerações têm algo em comum com a minha: a sensação que estamos vivendo uma época de mudanças – uma época em que a geração seguinte surge e põe abaixo todos os paradigmas antes construídos.
                A marca dessa geração que surge e que a torna facilmente identificável é a profusão de cores com as quais ela se veste. Lembro que quando era adolescente haviam as cores de meninos e as cores de meninas e ai de quem ousasse ultrapassar essa barreira (imposta por não sei que idiota). Aos poucos essa fronteira foi sendo superada e hoje vivemos mais do que nunca na época do “arco-íris”. A turminha de hoje conseguiu quebrar o preconceito que havia em torno do assunto e agora é cor para todo lado – do cadarço do tênis ao cabelo, passando pelos mínimos detalhes do corpo. Mas ai é que surge a grande dúvida: relativizaram o preconceito com as cores, mas será que o preconceito no qual ele se baseia (sobre a diversidade sexual) caiu por terra também?
                Não dá para negar que os ventos que sopram hoje estão bem diferentes dos de outrora. Os jovens não estão mais coloridos só por fora, estão por dentro também. Os preconceitos têm sido superados diariamente e eles estão bem mais abertos a assumir suas preferências sexuais para a sociedade e para a família. A minha geração tinha o ato de “sair do armário”, como um estigma, um tabu (tanto que a maioria ainda continua lá, rodeados de naftalina) – a de agora, tem um ambiente muito mais propício e aberto para se aceitar: os armários de hoje estão bem escancarados para quem quiser olhar para dentro.
                Isso não quer dizer que a intolerância não exista mais – grupos, principalmente ligados a algum seguimento religioso, ainda encaram as relações homossexuais como doença ou pecado e acreditam que elas degeneram a sociedade. Nesse contexto, a onda que varre a juventude não se reflete em políticas de promoção da diversidade sexual. Só para citar um ponto, a Constituição Brasileira reconhece apenas a união entre homem e mulher como entidade familiar (há ainda as famílias monoparentais que são as formadas por um dos pais e seus descendentes), então, qualquer casal homossexual que queira ter algum direito relativo à sua condição de convivente tem que fazê-lo sob a forma de sociedade – no Brasil, a lei trata o gay como empresa e não como pessoa. Fora outros direito que são negados como o de adoção, ou até mais simples como o de demonstrar carinho em publico sem sofrer nenhum tipo de agressão física ou moral.
                Confesso que é difícil entender o posicionamento desses grupos religiosos. Tratar um gay como um doente, degenerado ou criminoso é ir de encontro a um dos principais fundamentos do cristianismo: o de amar o próximo acima de todas as coisas. Além do mais negar-lhes direitos é destruir o pilar mais básico de qualquer Estado Democrático de Direito, o qual diz que “Somos todos iguais perante as leis”.
                No entanto, mesmo com toda essa campanha que ainda existe contra os homossexuais, sinto que vivemos uma revolução silenciosa – de um lado o colorido das novas idéias e do outro o obscurantismo de doutrinas já ultrapassadas. Aos poucos caminhamos para uma maior tolerância e respeito uns com os outros. Sinto que essa geração, ou mesmo a outra após essa, vem para enterrar de vez o preconceito sexual ainda existente.
                Por fim, cabe lembrar que há alguns séculos, o pensamento iluminista foi de encontro ao modelo de sociedade vigente e nos deixou como herança a “Declaração Universal dos Direito do Homem”: primeiro documento em que se estende a todas as pessoas direitos básicos como a vida, a liberdade e o patrimônio. Quem sabe daqui a mais alguns séculos as pessoas não olharão para trás, para os nossos dias, e dirão que esse foi o século das cores: aquele em que as pessoas deixaram de ser discriminadas por conta de suas preferências sexuais e se tornaram definitivamente iguais que, em verdade, é o que somos.
                

sábado, 16 de outubro de 2010

confissões de um capricorniano

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                Sou capricorniano nato – boa parte do que está escrito em qualquer site de signos ajuda a me definir – é só procurar que vocês vão achar os ingredientes da receita. Por outro lado, a fórmula é única: os ingredientes, apesar de facilmente encontrados em qualquer lugar, foram misturados de tal forma que acredito não haver outros como eu por ai. Ainda bem, meu e de vocês, que não há outro igual... ainda bem. De qualquer forma, auxiliado pelos meus anos de convivência comigo mesmo, vou ajudá-los a entender um pouco o que é ser do signo de capricórnio.
                Todo capricorniano é cercado por uma fortaleza instransponível, mas sempre deixamos uma porta aberta para receber aqueles a quem queremos bem. Esses morarão para sempre em nosso coração, que é um lar bem quente e aconchegante. Ao mesmo tempo, internamente, somos como um castelo de cartas – belos e frágeis – e um vento mais forte facilmente nos revolve e embaralha. Nosso mundo gira em torno dessa dualidade – a de ser forte e frágil ao mesmo tempo.
                Somos curiosos e desconfiados. Não porque acreditamos haver uma teoria da conspiração em cada ação humana, mas porque procuramos entender todas as engrenagens que movem o universo. Um capricorniano é acima de tudo racional – por mais que haja sentimentos em todos nós (e saibam que há muito), procuramos ver a razão em cada coisa. Nada acontece por acaso, e se há uma finalidade para tudo, pode ter certeza que tentaremos descobrir cada uma delas.
                Muitos nos chamam de materialistas, frios, calculistas, o que é verdade, mas só em partes. De fato nascemos com os dois pés no chão e o máximo que nos permitimos são pequenos pulos, porém nada que nos faça ter a cabeça nas nuvens. Por isso planejamos meticulosamente cada ação antes de a realizarmos. Afinal, ter estratégia nos dá a segurança para caminharmos e direção às nossas metas.
                Damos imenso valor à família e a todos aqueles que estão a nossa volta – seja amigos ou amores. Contudo, de forma alguma nos sentimos bem estando sujeitos às ordens de quem quer que seja. Prezamos a liberdade, e a sensação de controle que elas nos traz. Aqui, explico eu, também não procuramos controlar ninguém, cada um esteja livre para fazer o que deseja, de acordo com sua vontade (só não venha, por favor, ciscar em nosso terreiro).
                Possuímos uma alma um tanto velha. Somos responsáveis, paternalistas e super protetores com aqueles a quem queremos bem. Nesse contexto, espírito de aventura é algo que passa longe de nós (nem venha com seu irresponsável de ser para nosso lado que não dará certo). Além disso, damos grande valor ao tempo, e a todas as lições que ele nos traz. Por isso odiamos atrasos: eu, em particular, considero atraso uma falta de respeito com a outra pessoa – atrasar, para mim é dizer: “- meu tempo é mais valioso que o seu, então, foda-se e me espere”. Por isso, prestem atenção, nunca marque algo com um capricorniano e se atrase (aliás, nunca faça isso com ninguém).
                Quando o assunto é amor, confesso que somos realmente um tanto duros. Como diria um amigo meu, temos um coração de ouro: duro, frio e amarelado. Mas há aquelas pessoas que, não sei como, conseguem transpor nossos muros e nos acertam em cheio. Esses terão o prazer de nos ver de uma forma que poucos verão – românticos e apaixonados. Um capricorniano apaixonado é o bicho mais besta do mundo, se entrega por completo, ama intensamente e sempre mete os pés pelas mãos.
                Já no sexo não temos nada de frieza. Pelo contrário, somos uma chama disposta a esquentar qualquer relação. Gostamos de descobrir novidades, do inusitado, mas nada de malabarismos ou aventuras, afinal queremos gastar ferormônios e endorfinas e não colocar a adrenalina para fora. A transa com um capricorniano será perfeita se alternar entre estados de calmaria e tempestade; nada muito calmo nem mecânico, mas também nada arrebatador que deixe hematomas ao final. Odiamos pessoas lerdas, cheias de pudor, virginais, mas que isso não nos defina como promíscuos – a questão é que sabemos a diferença entre sexo e amor (apesar de que sexo com amor é tão gostoso quanto sorvete em dia quente).
                Somos, em sua maioria, tímidos e contidos. Gostamos de poder, comando, mas não de aparecer. Gostamos de saber que fizemos um trabalho bem feito, mas nos sentirmos sempre lisonjeados com os parabéns. Somos péssimos atores, mas ótimos diretores e produtores. Por isso não nos damos muito bem com leoninos e escorpianos: do primeiro, odiamos a sua ânsia em ser o centro das atenções, seus modos espalhafatosos e chamativos; já do ultimo é a sua “intensidade” o que nos irrita (todo escorpiano sempre acha que tudo nele é o melhor, o mais top, o übber... enfim).
                Aprendemos tudo fácil, somos bons ouvintes, e, sempre que solicitados, bons conselheiros. Aliás, somos bem melhores ouvindo que falando – apesar de termos sempre o que dizer, gostamos mesmo é de observar, aprender, analisar. Isso nos torna metódicos, sistemáticos e objetivos.
                Odiamos joguinhos – de qualquer espécie. Se for para brincar de algo, nem nos chame e se chamar, nos deixe ganhar, ou pelo menos acreditar que estamos ganhando. Não gostamos, na verdade é de perder nada, por isso não mergulhamos fundo em algo do qual não possuímos um prévio controle, ou do qual não fizemos uma analise anterior. Jogos de sedução, então, nos irritam facilmente – brinquem no máximo por alguns instantes, só para conquistar nossa atenção, mas depois já sabem: deixem-nos no comando.
                Uma imagem que define muito bem o capricorniano é a de um barco a vela. Deixamo-nos ser guiado pela situação, assim como o barco é pelo vento. Se recebermos algo intenso, responderemos na mesma intensidade, se o impulso for fraco, a resposta também o será. Contudo, mesmo tendo o vento como propulsor, ainda assim temos o controle do leme – caminhamos sempre com o rumo traçado, e seja ele qual for, um dia chegaremos ao porto que quisermos.
                Por fim, cabe relembrar que apesar de ser definido pelo meu signo, como dito acima, minha fórmula é única. Em menor ou maior grau um capricorniano que ler esse texto se reconhecerá, com certeza, mas quanto a mim se quiser me conhecer por completo, só mesmo convivendo comigo– quiser tentar, basta vir.

domingo, 10 de outubro de 2010

Política

                Estamos em pleno processo eleitoral e eu, que sempre gostei muito de política, me vi sem poder votar pela primeira vez (estou longe de minha cidade). Nada me impede, porém, de participar de todas as discussões possíveis sobre a matéria. Usarei, então, deste singelo espaço, que é meu, para compartilhar com todos vocês as minhas impressões sobre o tema. Desde logo quero fazer algumas considerações que acho bem úteis: 1 – não vou fazer aqui política partidária e não sou de direita ou de esquerda, até porque não acredito numa divisão estanque entre as duas; 2 – acredito que a política funciona sim, mas não acredito mais na prática política brasileira; 3 – pode até parecer conto de fadas, mas acredito que existam pessoas honestas fazendo política, apesar de ser uma espécie quase em extinção. Fechado o parêntese, vamos tratar do assunto principal, que é o importante.

Sobre política:
                Vivemos em sociedade, optamos por viver na “pólis” e, nessa condição, precisaremos sempre de alguém para comandar, para colocar ordem na bagunça que temos tendência a criar. Políticos, dessa forma, são um mal necessário com os quais temos que conviver.
                O desenvolvimento das sociedades, nos fez dividir cada vez mais as tarefas que antes podiam ser feitas por uma só pessoa. Estamos mais especializados em algo e esquecemos que não temos somente uma habilidade: um bom advogado pode ser perfeitamente um bom padeiro e um bom eletricista ao mesmo tempo. Nessa onda, empurramos uma responsabilidade que era de todos nós (a de cuidar da vida em sociedade) para apenas um grupo de indivíduos – os políticos.
                Quando o destino de todos era decidido nas praças, pelos cidadãos (mesmo o conceito de cidadão sendo bem restrito na época), era muito mais fácil fiscalizar, cobrar ou mesmo mudar os rumos, caso estes não dessem certo. Hoje não, os centros de poder estão cada vez mais distantes e restritos a poucas pessoas e quase ninguém se lembra que todos nós somos seres políticos, todos nós temos o direito e o dever de cuidar do interesse coletivo (nosso interesse). Infelizmente, só nos lembramos disso de dois em dois anos quando vamos às urnas e, mesmo assim, ainda vamos de mau gosto.
                Nesse contexto, nossa realidade política só melhorará realmente quando tomarmos de volta as rédeas da situação. Quando lembramos que além de todas as atividades cotidianas, temos mais uma a praticar – a de ser político.

Sobre direita e esquerda
                O Brasil viveu durante muitos anos sob o jugo de uma violenta ditadura militar onde todos os direitos fundamentais foram reprimidos em nome da conveniência política de um pequeno grupo. Muitos movimentos, com os mais variados pensamentos ideológicos, se formaram para lutar contra esse sistema e todos podem ser reunidos naquilo que se chama de “esquerda’. Esquerda, nesse contexto, é tudo aquilo que está numa situação de oposição ao que está no comando, na “situação”, ou à direita, como costumamos chamar.
                Acontece que, no nosso país, alguns grupos se apropriaram do termo “esquerda”, e o usam indiscriminadamente, mesmo quando são eles que estão no poder, no comando. Tomemos como exemplo o caso do Partido dos Trabalhadores que hoje conduz o país e mesmo assim se acha de esquerda (o que na minha ótica desvirtua todo o significado da palavra). Em verdade hoje eles são de direita, assim como todos os grupos ligados a ele (MST, Movimentos Sindicais, e todos os partidos da base aliada).
                O que quero deixar claro com isso é que ser de direita ou de esquerda não é somente pertencer a este ou aquele grupo (político ou não). Mas sim estar ou não apoiando um determinado grupo que está no comando (seja do país ou de qualquer outra instituição). Então, caros leitores, muito cuidado da próxima vez que vocês usarem o termo: - OK?

Sobre alienação
                Todos nós acompanhamos boquiabertos as dezenas de casos de corrupção e outros tantos crimes praticados, por todo o país, por nossos queridos políticos. Mesmo assim, a maioria deles continua se candidatando e se reelegendo e cometendo os mesmo crimes. Como isso é possível? – fácil responder: porque assim o queremos. Pois vejam, vivemos em uma democracia direta, nós votamos e escolhemos quem queremos que preencham as vagas disponíveis para os mais diversos cargos. Eles não se elegem sozinhos, são frutos das nossas escolhas.
                Alguns dizem que a culpa é do analfabetismo, da falta de informação, ou mesmo da alienação de nós jovens. Para mim não é nenhum dos três: as taxas de analfabetismo estão cada vez menores e a falta de acesso à educação formal nunca foi obstáculo para nenhuma revolução; o acesso a informação está cada vez melhor, são centenas de ferramentas de mídia disponíveis para todos; e quanto à alienação, esta existe sim (os ouvintes de Cine, Restart, Hori, estão ai para provar isso), mas ela, assim como a nossa derrocada política são consequências de um mal maior: nosso individualismo.
                Somos seres sociais, contudo priorizamos cada vez mais a individualidade. As famílias estão cada vez menores, as casas de hoje são cubículos se comparadas com as de ontem, tudo hoje vem em embalagens individuais. Não pensamos mais como conjunto, nós não fazemos mais almoços em família, não participamos de reuniões de condomínio, de bairro, da escola. Estamos preocupados demais com aqueles que vemos no espelho e esquecemos que a política e os políticos cuidam de nós todos como um corpo só.
                E enquanto nós esquecemos desse detalhe, os políticos aproveitam para cuidar daquilo que eles mais prezam – eles próprios. Se não fiscalizamos, não cobramos, se não corremos atrás daquilo que é nosso, eles continuam e continuarão deitando e rolando às nossas custas. Por isso, se queremos uma nova realidade social, temos que tirar o bumbum da cadeira e começarmos a cobrar, a falar, a discutir. E precisamos disso não só de dois em dois anos, nas eleições, mas todos os dias, seja em casa – nas relações familiares, seja no prédio, na vizinhança, e vamos subindo até chegar nas esferas mais altas de poder.

Voto de conveniência
                Todo mundo vota por conveniência – isso é fato. Porém, aqui é preciso diferenciar as conveniências que levam alguém a votar. Há aqueles que votam somente por interesses próprios, visando algo em troca depois da eleição (cargo, dinheiro, contratos) – esses elegem qualquer um, indiscriminadamente, pensam somente em si e em nada mais (olha a porra do individualismo); há aqueles que votam por aquilo que é mais conveniente para determinado grupo que participa – estes pensam mais em conjunto, mas ainda assim pensam naquilo que é melhor para si, não para todos; por fim há os que pensam que são isentos e votam pelo bem da nação, porém estes também votam por conveniência – votam por aquilo que mais se encaixa em sua visão política, aquilo que mais lhe interessa. Então, nem adianta dizer que você não vota visando algum interesse – em maior ou menor medida, todos nos pensamos primeiro na gente para depois no outro. Nosso mal, nossa sina.

Sobre as minhas lembranças e a eleições 2010
                Comecei a acompanhar noticias políticas mais ou menos por volta de 1992 quando houve o impeachment do então presidente Fernando Collor. Era muito novo, não entendia nada, mas essa é, de fato, minha primeira lembrança sobre o assunto. Depois disso, lembro mais claramente sobre o período de criação do plano real, de como era a expectativa e a esperança de todos os brasileiros que vivíamos sob o jugo de alguns planos econômicos que não deram certo anteriormente (ainda bem que esse deu muito bem, por sinal).
                Vivi toda minha infância e adolescência no período FHC e acompanhei as transformações todas pelas quais passou o Brasil em seus oito anos de mandato. Nesse período o país se modernizou – as privatizações, mesmo com todos os seus defeitos, serviram para dar um mínimo de qualidade para os serviços essenciais que antes eram sucateados (a atual geração nem imagina o quanto era difícil ter acesso a um simples telefone).  Mesmo que muitos não queiram aceitar, mas esse governo foi onde nasceu o alicerce do que é o Brasil de hoje. É claro que nem todas as reformas necessárias foram feitas, ao priorizar o lado econômico, Fernando Henrique deixou um tanto esquecido o lado social. Era preciso então mudar – e mudamos: mesmo com certo receio, elegemos um sindicalista e confiamos a ele o rumo de nossa nação.
                Nunca antes na historia desse país avançamos tanto em tão pouco tempo. Sem dúvida esse foi o melhor governo que já tivemos, em vários pontos, mas principalmente nas questões sociais e confesso que Lula me surpreendeu, assim como a muita gente. Desenvolvemos sim, contudo, por outro lado, nunca antes na historia desse país, tantos casos de corrupção, negociatas e outras formas escusas de se fazer políticas foram praticadas e vieram à tona. Mesmo que não se possa provar nenhuma ligação entre nosso atual presidente e esses tantos escândalos que houveram, não dá pra negar que todo esse jogo sujo mais que beneficiou a ele. Para ganhar um belo campeonato, nosso dirigente mostrou que não se importa como seu time joga: limpo ou sujo, para ele os fins justificam os meios – o que não é e não deve ser tomado como verdade.
                Pergunto-me, então, se não é hora de mais uma mudança. Será que depois de oito anos sob comando de um grupo não é a hora de testarmos um rumo diferente? – Não tenho nada contra a candidata governista, acredito nas propostas dela, mas o que me amedronta é a práxis governista do grupo ao qual ela faz parte. Além do mais, acredito na alternância do poder e que não devemos ficar presos somente a uma forma de governar. As reformas que FHC não conseguiu fazer, Lula realizou; as que este não fez, estão ai na urgência de serem feitas. Talvez seja hora de renovar os ares, para que possamos continuar respirando – depois, podemos não ter mais tempo.