Estamos em pleno processo eleitoral e eu, que sempre gostei muito de política, me vi sem poder votar pela primeira vez (estou longe de minha cidade). Nada me impede, porém, de participar de todas as discussões possíveis sobre a matéria. Usarei, então, deste singelo espaço, que é meu, para compartilhar com todos vocês as minhas impressões sobre o tema. Desde logo quero fazer algumas considerações que acho bem úteis: 1 – não vou fazer aqui política partidária e não sou de direita ou de esquerda, até porque não acredito numa divisão estanque entre as duas; 2 – acredito que a política funciona sim, mas não acredito mais na prática política brasileira; 3 – pode até parecer conto de fadas, mas acredito que existam pessoas honestas fazendo política, apesar de ser uma espécie quase em extinção. Fechado o parêntese, vamos tratar do assunto principal, que é o importante.
Sobre política:
Vivemos em sociedade, optamos por viver na “pólis” e, nessa condição, precisaremos sempre de alguém para comandar, para colocar ordem na bagunça que temos tendência a criar. Políticos, dessa forma, são um mal necessário com os quais temos que conviver.
O desenvolvimento das sociedades, nos fez dividir cada vez mais as tarefas que antes podiam ser feitas por uma só pessoa. Estamos mais especializados em algo e esquecemos que não temos somente uma habilidade: um bom advogado pode ser perfeitamente um bom padeiro e um bom eletricista ao mesmo tempo. Nessa onda, empurramos uma responsabilidade que era de todos nós (a de cuidar da vida em sociedade) para apenas um grupo de indivíduos – os políticos.
Quando o destino de todos era decidido nas praças, pelos cidadãos (mesmo o conceito de cidadão sendo bem restrito na época), era muito mais fácil fiscalizar, cobrar ou mesmo mudar os rumos, caso estes não dessem certo. Hoje não, os centros de poder estão cada vez mais distantes e restritos a poucas pessoas e quase ninguém se lembra que todos nós somos seres políticos, todos nós temos o direito e o dever de cuidar do interesse coletivo (nosso interesse). Infelizmente, só nos lembramos disso de dois em dois anos quando vamos às urnas e, mesmo assim, ainda vamos de mau gosto.
Nesse contexto, nossa realidade política só melhorará realmente quando tomarmos de volta as rédeas da situação. Quando lembramos que além de todas as atividades cotidianas, temos mais uma a praticar – a de ser político.
Sobre direita e esquerda
O Brasil viveu durante muitos anos sob o jugo de uma violenta ditadura militar onde todos os direitos fundamentais foram reprimidos em nome da conveniência política de um pequeno grupo. Muitos movimentos, com os mais variados pensamentos ideológicos, se formaram para lutar contra esse sistema e todos podem ser reunidos naquilo que se chama de “esquerda’. Esquerda, nesse contexto, é tudo aquilo que está numa situação de oposição ao que está no comando, na “situação”, ou à direita, como costumamos chamar.
Acontece que, no nosso país, alguns grupos se apropriaram do termo “esquerda”, e o usam indiscriminadamente, mesmo quando são eles que estão no poder, no comando. Tomemos como exemplo o caso do Partido dos Trabalhadores que hoje conduz o país e mesmo assim se acha de esquerda (o que na minha ótica desvirtua todo o significado da palavra). Em verdade hoje eles são de direita, assim como todos os grupos ligados a ele (MST, Movimentos Sindicais, e todos os partidos da base aliada).
O que quero deixar claro com isso é que ser de direita ou de esquerda não é somente pertencer a este ou aquele grupo (político ou não). Mas sim estar ou não apoiando um determinado grupo que está no comando (seja do país ou de qualquer outra instituição). Então, caros leitores, muito cuidado da próxima vez que vocês usarem o termo: - OK?
Sobre alienação
Todos nós acompanhamos boquiabertos as dezenas de casos de corrupção e outros tantos crimes praticados, por todo o país, por nossos queridos políticos. Mesmo assim, a maioria deles continua se candidatando e se reelegendo e cometendo os mesmo crimes. Como isso é possível? – fácil responder: porque assim o queremos. Pois vejam, vivemos em uma democracia direta, nós votamos e escolhemos quem queremos que preencham as vagas disponíveis para os mais diversos cargos. Eles não se elegem sozinhos, são frutos das nossas escolhas.
Alguns dizem que a culpa é do analfabetismo, da falta de informação, ou mesmo da alienação de nós jovens. Para mim não é nenhum dos três: as taxas de analfabetismo estão cada vez menores e a falta de acesso à educação formal nunca foi obstáculo para nenhuma revolução; o acesso a informação está cada vez melhor, são centenas de ferramentas de mídia disponíveis para todos; e quanto à alienação, esta existe sim (os ouvintes de Cine, Restart, Hori, estão ai para provar isso), mas ela, assim como a nossa derrocada política são consequências de um mal maior: nosso individualismo.
Somos seres sociais, contudo priorizamos cada vez mais a individualidade. As famílias estão cada vez menores, as casas de hoje são cubículos se comparadas com as de ontem, tudo hoje vem em embalagens individuais. Não pensamos mais como conjunto, nós não fazemos mais almoços em família, não participamos de reuniões de condomínio, de bairro, da escola. Estamos preocupados demais com aqueles que vemos no espelho e esquecemos que a política e os políticos cuidam de nós todos como um corpo só.
E enquanto nós esquecemos desse detalhe, os políticos aproveitam para cuidar daquilo que eles mais prezam – eles próprios. Se não fiscalizamos, não cobramos, se não corremos atrás daquilo que é nosso, eles continuam e continuarão deitando e rolando às nossas custas. Por isso, se queremos uma nova realidade social, temos que tirar o bumbum da cadeira e começarmos a cobrar, a falar, a discutir. E precisamos disso não só de dois em dois anos, nas eleições, mas todos os dias, seja em casa – nas relações familiares, seja no prédio, na vizinhança, e vamos subindo até chegar nas esferas mais altas de poder.
Voto de conveniência
Todo mundo vota por conveniência – isso é fato. Porém, aqui é preciso diferenciar as conveniências que levam alguém a votar. Há aqueles que votam somente por interesses próprios, visando algo em troca depois da eleição (cargo, dinheiro, contratos) – esses elegem qualquer um, indiscriminadamente, pensam somente em si e em nada mais (olha a porra do individualismo); há aqueles que votam por aquilo que é mais conveniente para determinado grupo que participa – estes pensam mais em conjunto, mas ainda assim pensam naquilo que é melhor para si, não para todos; por fim há os que pensam que são isentos e votam pelo bem da nação, porém estes também votam por conveniência – votam por aquilo que mais se encaixa em sua visão política, aquilo que mais lhe interessa. Então, nem adianta dizer que você não vota visando algum interesse – em maior ou menor medida, todos nos pensamos primeiro na gente para depois no outro. Nosso mal, nossa sina.
Sobre as minhas lembranças e a eleições 2010
Comecei a acompanhar noticias políticas mais ou menos por volta de 1992 quando houve o impeachment do então presidente Fernando Collor. Era muito novo, não entendia nada, mas essa é, de fato, minha primeira lembrança sobre o assunto. Depois disso, lembro mais claramente sobre o período de criação do plano real, de como era a expectativa e a esperança de todos os brasileiros que vivíamos sob o jugo de alguns planos econômicos que não deram certo anteriormente (ainda bem que esse deu muito bem, por sinal).
Vivi toda minha infância e adolescência no período FHC e acompanhei as transformações todas pelas quais passou o Brasil em seus oito anos de mandato. Nesse período o país se modernizou – as privatizações, mesmo com todos os seus defeitos, serviram para dar um mínimo de qualidade para os serviços essenciais que antes eram sucateados (a atual geração nem imagina o quanto era difícil ter acesso a um simples telefone). Mesmo que muitos não queiram aceitar, mas esse governo foi onde nasceu o alicerce do que é o Brasil de hoje. É claro que nem todas as reformas necessárias foram feitas, ao priorizar o lado econômico, Fernando Henrique deixou um tanto esquecido o lado social. Era preciso então mudar – e mudamos: mesmo com certo receio, elegemos um sindicalista e confiamos a ele o rumo de nossa nação.
Nunca antes na historia desse país avançamos tanto em tão pouco tempo. Sem dúvida esse foi o melhor governo que já tivemos, em vários pontos, mas principalmente nas questões sociais e confesso que Lula me surpreendeu, assim como a muita gente. Desenvolvemos sim, contudo, por outro lado, nunca antes na historia desse país, tantos casos de corrupção, negociatas e outras formas escusas de se fazer políticas foram praticadas e vieram à tona. Mesmo que não se possa provar nenhuma ligação entre nosso atual presidente e esses tantos escândalos que houveram, não dá pra negar que todo esse jogo sujo mais que beneficiou a ele. Para ganhar um belo campeonato, nosso dirigente mostrou que não se importa como seu time joga: limpo ou sujo, para ele os fins justificam os meios – o que não é e não deve ser tomado como verdade.
Pergunto-me, então, se não é hora de mais uma mudança. Será que depois de oito anos sob comando de um grupo não é a hora de testarmos um rumo diferente? – Não tenho nada contra a candidata governista, acredito nas propostas dela, mas o que me amedronta é a práxis governista do grupo ao qual ela faz parte. Além do mais, acredito na alternância do poder e que não devemos ficar presos somente a uma forma de governar. As reformas que FHC não conseguiu fazer, Lula realizou; as que este não fez, estão ai na urgência de serem feitas. Talvez seja hora de renovar os ares, para que possamos continuar respirando – depois, podemos não ter mais tempo.
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