terça-feira, 2 de novembro de 2010

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Hoje resolvi fazer algo diferente do costumeiro... não postarei um pensamento sobre algo, mas sim um conto. Não é o primeiro que escrevo, mas é um dos poucos que vocês terão oportunidade de ler por aqui, pelo menos por enquanto. Enfim, sem muitas explicações, aqui vai ele:



(des)Encontros


                Parou na varanda da sala e olhou para o horizonte que se enfeitava com mil cores. Não era a primeira, nem a ultima vez que via um pôr-do-sol, mas aquele tinha um significado especial: hoje era o último dia, de todos os dias, de sua velha vida. Tinha planejado esse momento durante algum tempo e hoje finalmente o estava colocando em prática. Não ia se matar, nem trocar de identidade ou mesmo fazer qualquer espécie de loucura, mas amanhã, quando o sol estivesse nascendo, seria outra pessoa, em outro lugar – tudo novo. Ficou ali até o ultimo contorno avermelhado do sol se esconder no horizonte e foi uma brisa gelada que a fez retornar a realidade: - vamos lá, hora de tomar as últimas providências – disse para si mesma.

                Apesar do longo tempo planejando essa mudança, a decisão mesmo de mudar veio repentinamente. Foi tudo muito rápido, muito louco – em menos de um mês já tinha se desligado de tudo, se despedido dos amigos, da família, vendido a casa, os móveis. Daquela antiga moradia só levaria o estritamente pessoal e as lembranças de alguns bons anos. Mas em verdade havia um segredo que ela não contou para ninguém: a velocidade da decisão foi, de certa forma, impulsionada por um sentimento que ela tentava conter, porém já não conseguia mais – ela estava apaixonada.
                Poucas semanas antes de se decidir por completo, viajando por uma das muitas redes sociais das quais fazia parte teve contato com aquele que iria acender novamente a chama há um bom tempo apagada. No inicio era uma conversa frívola, dois desconhecidos que se tateavam pelo escuro. Depois a intimidade foi aos poucos se instalando e em poucos dias já trocavam juras de amor e palavras de carinho pelo telefone. No mundo virtual, palavras de amor eram o máximo que se podia trocar para aplacar a ânsia de estar junto. E ela já contava nos dedos quando esse momento chegaria.
                E foi assim, com saudade dos que ficavam e com o coração aos pulos de ansiedade, que ela entrou no ônibus e deu adeus a todos na rodoviária. Evitou olhar para trás para que nenhum deles percebesse as lágrimas que lhe escorriam pelo rosto. Estava triste sim, afinal, apesar de não pertencer mais aquele lugar, partir sempre trás alguma dor (a quem vai e a quem fica). Contudo, mais do que isso, estava feliz pela nova vida que se descortinava à sua frente. Seus planos, metas e desejos estavam todos postos na mesa e era nisso que se segurava para não fraquejar.
                O ônibus partiu e ela, como sempre fazia em qualquer viagem, dormiu. Demorou um pouco dessa vez por conta dos vários pensamentos que lhe povoaram a mente, mas enfim ela conseguiu fechar os olhos e desligar-se por completo. Quando acordou, o dia já raiava e a paisagem passava veloz do lado de fora da janela. Tentou fixar sua vista na estrada, mas era o seu futuro a única coisa que pensava.
                Enfim ela pisou pela primeira vez naquele solo que seria seu novo lar por um bom tempo (assim ela esperava). Bateu nos ombros, como querendo limpar a poeira que carregava de outros tempos, respirou fundo, olhou ao redor e identificou no meio da multidão que aguardava os passageiros aquele sorriso que a tinha conquistado. Era ele, seu amado, lhe esperando com um buquê de rosas e um beijo apaixonado.  E essa historia termina no mesmo momento em que seus lábios se encontraram pela primeira vez. Ela não sabia o que dali para frente iria ocorrer, na verdade nem queria mais pensar nisso. Queria mesmo era viver o mais intensamente possível.

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