Domingo me perguntaram qual era meu maior medo. Parei por um momento pensando e, à primeira vista não consegui identificar nada que me causasse pavor a ponto de me paralisar. Depois, pensei direito e lembrei-me de um: medo de ficar velho. Tenho apenas 22 anos, mal sai da adolescência, mas queria estacionar por aqui, nada de chegar nos 30, muito menos na casa dos “entas” (quarenta, cinqüenta, sessenta...).
È engraçado: tenho uma ânsia de viver muito, cada dia viver mais, mas as vezes me esqueço que a vida é um processo continuo e que viver, inevitavelmente, vai me fazer um dia ficar velho. Como aprendemos, lá no primário, todos nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. A não ser que pelo meio do caminho alguma fatalidade aconteça, esse é o processo eterno e inevitável da vida.
Mas parece que nos últimos tempos a velhice se tornou como uma doença que deve ser evitada a todo custo. Proliferam por ai academias de ginástica, clinicas de cirurgia plástica, todos os dias surgem novos tratamentos, tudo para evitar o inevitável – a velhice. E, ao final, a humanidade se desfigura e se esconde atrás de rostos e de corpos sarados que servem apenas para tentar preencher o vazio da alma.
Todos nós hoje temos um prazo de validade. Não basta ter sucesso, ou ser inteligente, ou mesmo ser o cara mais legal, ou o marido mais amoroso: temos mesmos é que ser belos e jovens. A aparência é o que conta, e a velhice, com suas rugas e limitações, não esta nos planos de quase ninguém.
O mais surpreendente é que, na segunda feira, ao ler uma revista, achei o texto de uma escritora que gosto muito – “Lya Luft”. Ela comentava em sua coluna, sobre seus setenta anos, e o quanto é normal hoje fazer setenta anos – tanto que ela resolveu nem dar uma grande festa, deixará pra fazer isso nos oitenta anos. Além disso, num certo parágrafo, ela trazia uma mensagem que eu também tenho pensado muitos nos últimos tempos e que se resume na seguinte frase: - “why be normal?”. Ou, como eu gosto de pensar: “no more keeping my feet on the ground” (copiado do título de uma musica da banda Coldplay).
E realmente, porque ser normal? Não seria melhor pararmos de andar com os pés no chão sempre? - Não seria melhor nos permitir viver mais despreocupado, mais livre, mais com a cabeça nas nuvens. Porque temos sempre que ser tão certinhos, tão chatos?
Se o medo de ser velho não é apenas o de ficar enrugado, mas o de também nos tornamos tão burocráticos como os nosso avós, temos que, além de cuidar do corpo, também cuidar da alma. Não adianta nada termos a aparência de 30 anos e a mentalidade de 70 anos. As experiências acumuladas ao longo dos anos não devem nos tornar duros e inflexíveis, ao contrario, devem nos tornar maleáveis e abertos a aprender sempre mais, a evoluir mais.
É vivendo o hoje que construiremos o nosso futuro. Não adianta nada ficar se lamentando pelo que passou e nem se angustiando pelo que virá. Cada problema se resolve ao seu tempo, não vale a pena se atormentar por problemas futuros e deixar de lado a resolução dos atuais. A vida é um processo continuo e inexorável que caminha em um só sentido – pra frente. Felizes seremos quando pensarmos que um dia, um mês, ou um ano, não é somente mais um, mas sim uma nova chance de recomeçar... recomeçar sempre a busca por sermos pessoas melhores.