quarta-feira, 18 de março de 2009

conto inacabado

Existem três tipos de dor:

A dor que fala, a dor que cala e a dor que cria.




Deitou-se mais uma vez na cama e olhou novamente para o teto amarelo e mofado que preenchia todo seu campo de visão. Fechou os olhos e tentou dormir um pouco, mas os pensamentos não o deixaram nem ao menos cochilar. Ficou algum tempo (nem sabia quanto) virando de um lado para outro da cama, mas nem o sono vinha, nem a vontade de ficar ali – sozinho, ia embora. Não queria ver ninguém, por isso chegou da rua, passou pela sala sem ao menos dar boa noite aos presentes e entrou no quarto, levando consigo apenas um vaso de água que imaginou que serviria para aplacar aquela sede que lhe subia pela garganta.

Não estava triste, mas também não estava alegre, na verdade nem ao menos sabia que sentimento era aquele que lhe apertava o peito. Não era a primeira vez que sentia isso e sabia, com uma certeza inabalável, que não seria a última. Sentia vontade de chorar, mas as lágrimas não desciam; sentia vontade de gritar, mas o grito ficava engasgado na garganta sedenta; sentia vontade de sair sem rumo, sem ter pra onde ir, nem hora pra voltar, mas sentia medo de se perder de si.

Levantou-se, e colocou uma música para tocar. Queria preencher aquele vazio que sentia com alguma coisa, ao menos um som, mas o que conseguiu apenas foi que a música lhe trouxesse velhas recordações. E o aperto no peito chegou a tal ponto que por um instante achou que iria sufocar num mar de nostalgia e solidão. Pegou o celular, acessou a agenda e percorreu todos os nomes – de “a” a “z”, tentando encontrar alguém para conversar, alguém para ouvir a voz, alguém para dizer um olá, alguém que o fizesse sentir que não estava sozinho no mundo. E essa era a pior sensação que se podia sentir e a que mais lhe ocorria, mesmo quando estava acompanhado por uma multidão, mesmo quando tinha várias pessoas por perto, ainda assim se sentia sozinho – como nesta noite, em que nem ao menos conseguiu imaginar quem é que lhe atenderia àquela hora, para conversar um pouco que seja.

Continuou deitado, dessa vez no escuro, ouvindo a música que tocava e tentando fazer aquilo que via em todo filme, contar carneirinhos pra ver se o sono chegava. Mas percebeu rapidamente que isso só funcionava no cinema e que a realidade não era tão doce quanto os filmes em que tudo sempre termina em “happy end”.

Refletiu sobre o momento que vinha passando. Grandes coisas vinham acontecendo e grandes mudanças se anunciavam. Por um breve instante teve medo disso tudo – onde iria chegar? Será que todos seus planos e metas seriam cumpridos? Quais obstáculos teria que enfrentar pelo caminho? – pensou nisso tudo e em muitas outras perguntas que foram surgindo e para nenhuma delas teve uma resposta que lhe acalmasse o espírito.

Ficou assim até que o sol começou a pintar o céu de “mil tons” de rosa e a claridade ameaçou invadir o quarto pela janela entreaberta. Chegou até a ouvir o canto dos pássaros acordando e, ao longe, o de um galo anunciando o novo dia. Depois disso não mais ouviu nada e nem sabe ao certo quando o sono o arrebatou e conseguiu enfim desligá-lo de todos os pensamentos. Por fim, dormiu profundamente a manha toda depois de mais uma noite de insônia...

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