segunda-feira, 10 de novembro de 2008

reflexos


Ela olhou outra vez para espelho tentando reconhecer que figura era aquela que a fitava do outro lado - mais uma vez não reconheceu de quem era aquele rosto.
- Não... ela não estava doida, ou tendo algum tipo de esquecimento súbito. Somente não sabia identificar quem era o outro alguém do espelho que lhe devolvia aquele olhar de incredulidade e de espanto.
Esta cena se repetia todos os dias, todas as manhãs, quando acordava e por alguns instantes parava diante do espelho já bastante gasto que ocupava toda a parede central do banheiro. Esta cena lhe era comum, mas todas as vezes ainda se surpreendia com a nova imagem que o espelho lhe devolvia.
- Não... não estava louca. Só sabia que cada dia que passava lhe acrescentava novas experiências, erros, acertos, algumas rugas, certos sentimentos, uns poucos fios de cabelos brancos (que ela sempre tingia de vermelho)e que cada dia era uma pessoa nova - porém com a mesma essência.
Era essa certeza que fazia, todos os dias, a susto passar, e o olhar de incredulidade se transformar num liame de ternura. Um amor por si própria, uma felicidade suprema em estar novamente viva - e sempre nova.
Assim eram todas as manhãs... amanhã seria novamente.

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