sábado, 7 de agosto de 2010

curta-metragem

Veio tudo assim,
Pingado,
Gota a gota...
Como uma camada de orvalho,
Madrugadas adentro,
Foi grudando cada linha no papel.
O que daí saiu
Só lendo pra entender (ou não).
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A vida nos cobra certos papéis, mas não nos dá o roteiro a ser seguido. Somos atores sem texto e sem direção... Jogados num palco, com uma imensa platéia a nos assistir, resta-nos apenas improvisar todas as cenas e fazer de cada pequeno ato, um grande espetáculo.
Nesse grande teatro de casualidades sou muitos, sou vários, sou vasto. Me desdobro entre mil e um personagens, faces múltiplas de um único ser – Eu.
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Aos 24 andei por muito mais caminho do que um dia imaginei. Meus olhos (meio míopes, por sinal) já viram de tudo um pouco. Mas ainda há muito pra percorrer, muita paisagem pra avistar... Só sei que a poeira dos acontecimentos se misturou ao suor e lágrimas e, se não me transformou em uma fortaleza, pelo menos me deixou um couro grosso, que aguenta as pancadas que o destino dá, com uma resistência ímpar. Não é qualquer vento que me derruba.
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Como diria a escritora Lya Luft, de quem eu peguei esse verso e introjetei em mim: “com as perdas só há um jeito – perdê-las”. E é verdade: não adianta nada passar o resto da vida lamentando por aquilo que se foi, pois tudo tem seu tempo certo de acontecer. É claro que nada se vai sem nenhuma dor, mas pra que ocupar os braços com “adeuses” e enxugar de lágrimas se podemos deixá-los livres e abertos esperando pelo que virá?
E no mais, são nos momentos de perdas que compreendemos o real valor das coisas que ficaram e a importância das metas que ainda temos a cumprir. E ai nos cabe escolher entre permanecer e partir, entre o passado e o presente, entre aquilo que já não é mais nosso e aquilo que nos espera em outro lugar.
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Tristeza é quando o sol se põe no coração da gente. É aquela brisa gelada antes do amanhecer. É um rio correndo ao contrário, uma chama que escurece, em vez de brilhar. É o não querer, o não ser, o não se amar. É perder-se dentro de uma sala fechada. Tristeza é aquela janela que a alma abre para dentro.
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Insegurança é exatamente a sensação de não ter onde se segurar – aquela de olhar para todos os lados e não ver uma mão estendida, um sorriso salvador. É estar sozinho no meio da multidão. Insegurança é aquela vontade de não sair do lugar, de ficar dentro do casulo, não dar um passo, mesmo quando a vida exige de nós uma maratona. Insegurança é quando o medo pinta nos sonhos um sinal de alerta, mesmo não existindo perigo algum. Insegurança é querer algo e não lutar por isso. Insegurança é não se entregar, é percorrer um pântano de olhos vendados, é andar na corda bamba, um salto de pára-quedas no escuro, um tiro ao acaso. Insegurança é a mais pura forma de covardia.
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Conquista não é um jogo – se fosse, o maior jogador seria sempre o grande perdedor. Conquista não é um ritual, não precisa de palavras e gestos ensaiados – conquista acontece com uma simples troca de olhares, um sorriso, aquele silêncio que preenche espaços. Conquista-se alguém com um afago, uma palavra dita na hora certa (ou na hora errada), um fazer, um não fazer. Conquistar alguém não é o mesmo que conquistar algo – não há uma relação de posse, um possuidor e um possuído, mas sim uma relação de troca, em que todos saem ganhando. Conquista é aquele momento em que encontramos no outro aquele pedaço de algo que nos falta – e sempre nos falta algo, todos sabemos disso e, por isso mesmo, sempre procuramos alguém pra compartilhar nossas faltas.
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Quando alguém aprende a ser feliz, dificilmente se esquecerá disso um dia. Felicidade está nos pequenos e nos grandes gestos, nas entrelinhas dos acontecimentos, num suspiro, num desejo. E não há tristeza ou sofrimento, por maior que seja, que não se apague diante de um sorriso aberto, de uma mão estendida, do aconchego de um carinho. Quem perde o porto um dia, só se sente à deriva se não souber nadar, ou se não aprendeu que sempre há um bote salvador por perto. Sorrir é sim um bom remédio, e perceber que a vida é simples demais para que a compliquemos, e curta demais para que percamos tempo com bobagens, faz um bem danado.

Por isso tudo dificilmente me verás um dia triste. Aprendi desde cedo a sorrir, a dividir, a ser racional. A amar mais do que guardar rancor, a perdoar mais do que julgar, a ser sincero, humilde, e a acreditar no próximo. Possuir sentimentos como esses não me torna um fraco, ou ingênuo, pelo contrário, me faz forte o suficiente para enfrentar todas as adversidades.

E as adversidades são muitas, mas nada que não possa ser enfrentado com um pouco de paciência e muita coragem. Nada que abrir um belo sorriso não resolva. Por isso, lembro sempre e primeiro de mim, que o mais importante é minha felicidade, e que “os outros, são os outros, e só”.

3 comentários:

Anônimo disse...

O que dizer? Vc é meu escritor preferido. Sem dúvidas!

SP disse...

Sdds de visitar a casinha. Tempão sem vir aqui. Lembro me bem do primeiro dia em que isso aconteceu. Milhões de palavras lidas, milhões de palavras jamais esquecidas me veem à memória, e me fazem lembrar de tempos e coisas que jamais serão esquecidas. Tenho orgulho dos laços que foram criados, e da ligação que jamais será cortada.
Sdds, meu amigo/ irmão. Espero revê-lo em breve.
Grande abraço.

Nuriko disse...

Li em algum lugar que felicidade encontramos em horinhas de descuido. Será??!!