quarta-feira, 18 de agosto de 2010

cartas

Eu nunca escrevi cartas, sejam elas de que espécie for. Exceto, é claro, uma ou outra carta promocional (que eu não conto), eu nunca redigi uma. No principio elas nunca se fizeram necessárias, não havia porque ou pra quem mandar. Já hoje, quando enviar uma às vezes se torna justo e necessário, porque motivos há, as cartas perderam todo o sentido, caíram de moda. Constatei esse fato hoje, e disso outras coisas surgiram em mente pra complementar o pensamento (já que pensamentos nunca vêm desacompanhados de outros).

Primeiro: qual o prazer em receber uma carta? Imagino o quanto deve ser gostoso abrir com ansiedade um envelope, desamassar o conteúdo e ir degustando cada linha como quem degusta um doce de leite, ou um remédio amargo (tudo depende do conteúdo, é claro). Um e-mail, por mais “modernoso”, cômodo e rápido, que seja, não traz a mesma emoção. Falta a ele a condição física de ser apalpado, enchido de beijos ou molhado de lágrimas. Aliás, um e-mail jamais poderá ser guardado junto com outro e-mail, amarrado por uma fita de seda, naquela caixinha de madeira no fundo do baú.

Segundo: a modernidade é por vezes cruel demais com as coisas, ou mesmo conosco. Culpa nossa, sempre apressados. Culpa nossa que resolvemos dividir o dia em apenas vinte e quatro horas, sem nos darmos conta que elas não são suficientes para viver (ou são e nós é que ainda não aprendemos isso?). Não há mais tempo para nada, pelo menos não para as coisas que importam de verdade: com o intuito de racionalizar o tempo, esquecemos da parte em que ele também precisa de emoção e ai perdemos o pôr do sol, o banho de chuva, o canto dos pássaros... Mas aqui cabe uma ressalva: eu não sou contra modernidades, pelo contrário, as adoro. Sou filho do meu tempo, e convivo muito bem com ele, apesar de me sentir às vezes um tanto deslocado.

Terceiro: e por falar em tempo, como diria Caetano, ele realmente é um “dos deuses mais lindos”. Por isso eu o venero e respeito as respostas que ele me traz – mesmo que às vezes eu não as entenda. Não sei pra vocês, mas foge de mim a compreensão de certos acontecimentos, certos rumos que a vida nos leva, certos caminhos a trilhar, certas escolhas (e elas são tantas). Mas também não quero saber de todas as respostas, o bom de viver está no mistério contido em cada curva do caminho, por isso vale a pena caminhar sempre em frente.

E no mais é só... chega por hoje. De um parágrafo eu escrevi quatro e escreveria outros mais... pensamento realmente puxa pensamento. Ficam os outros para outra postagem.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

saudade...

Minha mãe sempre me disse que estava me criando paro mundo e não para ela. Ensinou-me a andar sozinho, sem sua ajuda; a pensar e agir por meios próprios; ensinou-me a lutar por meu espaço e a transformar todo sonho em metas e cumpri-las. Hoje, mais do que nunca, entendo e agradeço todo esforço e desprendimento que ela sempre teve. Não deve ser fácil para uma mãe solteira ver seu filho único crescer, se tornar independente e partir. Imagino o tanto que ela deve ter chorado e imaginado se podia ter feito diferente – se podia ter me tornado dependente dela, preso à sua saia. Mas ela não o fez, deixou-me livre com minhas escolhas e sei que tenho o apoio dela em cada decisão que tomo.

Minha mãe só não me ensinou que o mundo longe dela pode ser mais cruel e solitário do que ele parece à primeira vista. Por me amar demais ela sempre desenhou o mundo com muitas cores e esqueceu-se de me contar que ele também tem seu lado preto e branco. Acreditando em minha fortaleza, ela não imaginou que às vezes eu me dobro com os ventos e que preciso de colo e carinho. Sei que talvez eu mesmo tenha contribuído para isso tudo – no afã de ser livre, sempre mostrei a ela que era feito de aço, mas escondi dela que aço também se quebra.

Se hoje choro de saudade, ao mesmo tempo tenho imenso orgulho da mãe que tive. Se minhas escolhas me levaram hoje a estar longe dela, agradeço sempre a oportunidade que eu tive de fazer essas escolhas. Hoje, mesmo longe, mesmo sentindo falta da sua ausência física, sinto, sempre por perto, o carinho que ela emana, a preocupação, o amor. E sei que a qualquer momento eu posso voltar e o abraço estará lá me esperando.

PS: tudo que foi dito acima também se aplica à minha avó, que é minha segunda mãe.

sábado, 7 de agosto de 2010

curta-metragem

Veio tudo assim,
Pingado,
Gota a gota...
Como uma camada de orvalho,
Madrugadas adentro,
Foi grudando cada linha no papel.
O que daí saiu
Só lendo pra entender (ou não).
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A vida nos cobra certos papéis, mas não nos dá o roteiro a ser seguido. Somos atores sem texto e sem direção... Jogados num palco, com uma imensa platéia a nos assistir, resta-nos apenas improvisar todas as cenas e fazer de cada pequeno ato, um grande espetáculo.
Nesse grande teatro de casualidades sou muitos, sou vários, sou vasto. Me desdobro entre mil e um personagens, faces múltiplas de um único ser – Eu.
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Aos 24 andei por muito mais caminho do que um dia imaginei. Meus olhos (meio míopes, por sinal) já viram de tudo um pouco. Mas ainda há muito pra percorrer, muita paisagem pra avistar... Só sei que a poeira dos acontecimentos se misturou ao suor e lágrimas e, se não me transformou em uma fortaleza, pelo menos me deixou um couro grosso, que aguenta as pancadas que o destino dá, com uma resistência ímpar. Não é qualquer vento que me derruba.
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Como diria a escritora Lya Luft, de quem eu peguei esse verso e introjetei em mim: “com as perdas só há um jeito – perdê-las”. E é verdade: não adianta nada passar o resto da vida lamentando por aquilo que se foi, pois tudo tem seu tempo certo de acontecer. É claro que nada se vai sem nenhuma dor, mas pra que ocupar os braços com “adeuses” e enxugar de lágrimas se podemos deixá-los livres e abertos esperando pelo que virá?
E no mais, são nos momentos de perdas que compreendemos o real valor das coisas que ficaram e a importância das metas que ainda temos a cumprir. E ai nos cabe escolher entre permanecer e partir, entre o passado e o presente, entre aquilo que já não é mais nosso e aquilo que nos espera em outro lugar.
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Tristeza é quando o sol se põe no coração da gente. É aquela brisa gelada antes do amanhecer. É um rio correndo ao contrário, uma chama que escurece, em vez de brilhar. É o não querer, o não ser, o não se amar. É perder-se dentro de uma sala fechada. Tristeza é aquela janela que a alma abre para dentro.
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Insegurança é exatamente a sensação de não ter onde se segurar – aquela de olhar para todos os lados e não ver uma mão estendida, um sorriso salvador. É estar sozinho no meio da multidão. Insegurança é aquela vontade de não sair do lugar, de ficar dentro do casulo, não dar um passo, mesmo quando a vida exige de nós uma maratona. Insegurança é quando o medo pinta nos sonhos um sinal de alerta, mesmo não existindo perigo algum. Insegurança é querer algo e não lutar por isso. Insegurança é não se entregar, é percorrer um pântano de olhos vendados, é andar na corda bamba, um salto de pára-quedas no escuro, um tiro ao acaso. Insegurança é a mais pura forma de covardia.
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Conquista não é um jogo – se fosse, o maior jogador seria sempre o grande perdedor. Conquista não é um ritual, não precisa de palavras e gestos ensaiados – conquista acontece com uma simples troca de olhares, um sorriso, aquele silêncio que preenche espaços. Conquista-se alguém com um afago, uma palavra dita na hora certa (ou na hora errada), um fazer, um não fazer. Conquistar alguém não é o mesmo que conquistar algo – não há uma relação de posse, um possuidor e um possuído, mas sim uma relação de troca, em que todos saem ganhando. Conquista é aquele momento em que encontramos no outro aquele pedaço de algo que nos falta – e sempre nos falta algo, todos sabemos disso e, por isso mesmo, sempre procuramos alguém pra compartilhar nossas faltas.
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Quando alguém aprende a ser feliz, dificilmente se esquecerá disso um dia. Felicidade está nos pequenos e nos grandes gestos, nas entrelinhas dos acontecimentos, num suspiro, num desejo. E não há tristeza ou sofrimento, por maior que seja, que não se apague diante de um sorriso aberto, de uma mão estendida, do aconchego de um carinho. Quem perde o porto um dia, só se sente à deriva se não souber nadar, ou se não aprendeu que sempre há um bote salvador por perto. Sorrir é sim um bom remédio, e perceber que a vida é simples demais para que a compliquemos, e curta demais para que percamos tempo com bobagens, faz um bem danado.

Por isso tudo dificilmente me verás um dia triste. Aprendi desde cedo a sorrir, a dividir, a ser racional. A amar mais do que guardar rancor, a perdoar mais do que julgar, a ser sincero, humilde, e a acreditar no próximo. Possuir sentimentos como esses não me torna um fraco, ou ingênuo, pelo contrário, me faz forte o suficiente para enfrentar todas as adversidades.

E as adversidades são muitas, mas nada que não possa ser enfrentado com um pouco de paciência e muita coragem. Nada que abrir um belo sorriso não resolva. Por isso, lembro sempre e primeiro de mim, que o mais importante é minha felicidade, e que “os outros, são os outros, e só”.